A roda dos alimentos é formada por seis grupos distintos consoante as suas características nutricionais. Todos os alimentos essenciais de cada grupo precisam de entrar na alimentação do idoso. No entanto, estes têm muitas vezes dificuldades de mastigação devido à falta de dentes, à diminuição das secreções digestivas e à hipotonia do aparelho digestivo.
Para além disso, há que escolher alimentos que assegurem a ingestão e aproveitamento óptimo dos nutrientes necessários em condições patológicas frequentes, como perturbações digestivas e da motilidade gastro-intestinal e do metabolismo intermediário, que se acompanham de estados de hipoacidez ou anacloridria, gastrite crónica, diminuição de enzimas pancreáticas e intestinais, irrigação insuficiente por arterosclerose ou insuficiência cardíaca, atrofia da parede intestinal de forma a corrigir ou compensar os efeitos da absorção e mal nutrição secundária.
Os hábitos alimentares, muito difíceis de corrigir nestas idades por estarem profundamente arreigados, contribuem quase sempre para dificultar as tarefas de estabelecimento da alimentação racional das pessoas idosas, sem entrar em linha de conta com os casos de doença específicas, como diabetes, hipertensão e aterosclerose.
A orientação geral na escolha dos alimentos deve assentar nas seguintes normas, indicadas para cada um dos grupos da roda dos alimentos.
O leite deve ser meio gordo ou magro, e o queijo de preferência com menos de 45 por cento de gordura ou fresco pasteurizado.
São recomendados a carne magra (frango, coelho, vitela), o peixe branco (pescada, bacalhau fresco, faneca, peixe espada, linguado, solha ou equivalente) e os ovos (não mais de 3 por semana).
Dê preferência ao azeite e óleos alimentares.
O pão de mistura manterá o primeiro lugar, complementado com arroz, massa e outras formas de consumo de cereais (farinhas e flocos).
Todos os vegetais verdes, a batata e os frutos de fácil digestão e bem maduros são indispensáveis.
Prefira a água, mas não suprima bruscamente o vinho e o café. O chá e as bebidas alcoólicas fermentadas fracas, em quantidade moderada, podem tornar-se úteis, por promoverem a secreção de sucos digestivos.
Necessidades calóricas
As necessidades calóricas diminuem de 20 a 25 por cento entre os 50 e os 65 anos. Depois desta idade, diminuem cinco a dez por cento em cada 10 anos. Por este motivo, é essencial reduzir o consumo de calorias não nutritivas, como o açúcar, o álcool ou a gordura.
Por vezes, o idoso necessita de uma maior ingestão calórica para que as suas necessidades sejam asseguradas, como por exemplo em situações de incapacidade ou de anorexia.
Assim, uma eventual má nutrição pode ser evitada dando-se atenção aos alimentos de pouco volume e calorias concentradas que sejam ricas em proteínas, vitaminas e minerais, e que são preparados de um modo saboroso.
Os alimentos de baixo valor calórico devem ser escolhidos com cuidado, pois devem conter todos os elementos essenciais nas devidas proporções. Há uma necessidade evidente de alimentos com alto teor de proteínas, minerais e vitaminas.
A redução da taxa calórica implica a difícil tarefa de alterar hábitos alimentares, que nas pessoas idosas são, em geral, tão arraigados que se torna difícil mudá-los, a menos que o caminho para esta mudança se torne facilitado.
Necessidades proteicas
O aporte proteico não deve exceder 12 a 15 por cento das calorias, mas deve assegurar os ácidos aminados essenciais, em particular a Lisina, a Metionina e o Triptofano. No entanto, há que ter em atenção que os idosos adoecem mais frequentemente. Como a doença causa uma perda proteica significativa no organismo, as dietas planeadas para idosos devem possuir uma margem de segurança.
A carência proteica do idoso surge sobretudo por carência de aporte devida a factores económicos e sociais, estados depressivos, anorexia, mau estado de dentição, entre outros factores.
Necessidade lipídicas
É bem conhecida a relação que existe entre a gordura do regime alimentar e os níveis de Colesterol, assim como a relação deste com a arteriosclerose. Assim, as gorduras devem manter-se na proporção de 25 a 30 por cento das calorias, sobretudo de origem vegetal (azeite e óleos alimentares ricos em ácidos gordos mono e polinsaturados), reduzindo ao máximo as de origem animal (manteiga, banha, enchidos, gema de ovo) e com colesterol alto.
Necessidades de hidratos de carbono
Os hidratos de carbono constituem uma fonte importante de energia, indispensável para a actividade muscular. Para além disso, favorecem a utilização dos aminoácidos. Deve-se administrar ao idoso quantidades adequadas de hidratos de carbono, para que a glicémia se mantenha dentro dos valores normais.
Os hidratos de carbono devem ser administrados sob a forma de hidratos de carbono complexos representados pelos amidos, pois a absorção destes é lenta na medida em que eles devem ser previamente submetidos à digestão enzimática que os reduzirá a moléculas de glicose. Estão presentes em muitos alimentos de origem vegetal. Os hidratos de carbono devem representar 50 a 60 por cento do valor calórico total.
Necessidade de Vitaminas
Não há dados científicos de que as necessidades vitamínicas diminuam com a idade. Por este motivo, é seguro afirmar que as pessoas idosas necessitam de todas as vitaminas da mesma forma que quando mais jovens, em especial a vitamina A, as vitaminas do complexo B e vitamina C. A melhor maneira de assegurar o aporte de vitaminas diário está na dieta variada. Quando não estiver seguro, utilize produtos farmacêuticos polivitaminados de tipo geriátrico.
Saiba a que se devem as principais carências vitamínicas do idoso:
- Vitamina D: A carência desta vitamina surge principalmente devido a dois factores: a falta de exposição ao sol e os regimes alimentares monótonos.
- Vitamina B1: A carência desta vitamina surge devido a uma alimentação pouco diversificada ou ao abuso de açúcares refinados.
- Vitamina B12: A carência desta vitamina pode levar a uma situação comum no idoso, a anemia.
- Vitamina C: A carência desta vitamina surge devido a regimes pobres em vegetais e frutas.
- Vitamina E:Esta carência surge quando a relação entre a vitamina E e os ácidos gordos polinsaturados não é adequada.
Necessidades de Minerais
Os minerais precisam de ser fornecidos em quantidades semelhantes às do adulto.
Destes, a atenção vai essencialmente para o cálcio e ferro, para além do sódio e do iodo.
- Cálcio: São necessários 800 mg deste mineral por dia. Nos casos de Osteoporose, as necessidades situam-se á volta de 1000 mg/dia.
- Ferro:As necessidades de ferro aumentam para os idosos. Na mulher, diminuem muito depois da menopausa, tornando-se iguais às dos homens. Ainda assim, são conhecidos os estados frequentes de anemia nestas idades. Estas anemias resultam, por um lado, de uma alimentação inadequada (regime alimentar monótono desprovido de alimentos ricos em ferro, como a carne, os ovos, os cereais e os legumes verdes) e, por outro lado, devido a uma má absorção hipoloridria.
- Iodo:É um elemento importante a considerar, pois a sua falta ocasiona frequentemente estados de hipotiroidismo nas pessoas idosas.
- Sódio: A sua restrição é conveniente pelas suas relações com a hipertensão e com a insuficiência cardíaca. O regime alimentar não deve conter mais de 4 gr de sal comum por dia.
Necessidade hídricas e de fibras
Os idosos necessitam de quantidades adequadas de líquidos e de fibras, a fim de evitar a obstipação, uma queixa comum entre os indivíduos nesta faixa etária.
No idoso, há uma desproporção de fluidos, pelo que, há uma tendência à desidratação. Assim, há que ingerir líquidos em quantidades suficientes, mas tendo o cuidado de não os dar só às refeições. O aporte hídrico deverá assegurar uma diurese mínima de1,5 l por dia.
Para pacientes febris, com vómitos, diarreia ou poliuria há uma maior necessidade de líquidos, assim como para os idosos que utilizam diuréticos. O mesmo acontece nos ambientes quentes, que trazem uma maior necessidade de líquidos.
Quanto á fibra, uma dieta normal contendo frutas, vegetais e cereais fornece uma dieta adequada neste elemento para a maioria das pessoas.
As refeições na terceira idade devem ser pouco abundantes e repartidas, por forma que cada uma não sobrecarregue demasiado o estômago do idoso. À medida que aumenta a idade, a tendência será para que as refeições se tornem isocalóricas e com intervalos de cerca de 2,30 a três horas. Estas refeições devem ser preparadas para facilitarem a mastigação e permitirem uma fácil digestão, evitando a utilização de condimentos fortes e de gorduras em excesso e muito aquecidas.
Para além disso, as refeições devem ser atractivas em termos de aspecto, de paladar e de consistência a fim de que estimulem o apetite.
Em termos de nutrientes, para idosos, deve preparar refeições pobres em gorduras sólidas e de origem animal e ricas em proteínas de origem animal, metade das quais devem ser provenientes de produtos lácteos.
O idoso deve ir buscar as vitaminas e minerais aos alimentos do GRUPO V da roda dos alimentos (vegetais, hortícolas, batatas, frutos), pois estes alimentos são facilmente digeríveis. As fibras podem ser adquiridas à custa do pão de mistura e de alimentos do GRUPO IV (vegetais secos, cereais e derivados, leguminosas secas, açúcar e cacau)
Aspectos a ter em conta na preparação
Ao organizar o regime alimentar de um idoso, deve ter em conta os seguintes factores. A má dentição, ou utilização de defeituosa prótese dentária, exige o emprego de alimentos apropriados e com uma textura adequada (cozedura suficiente, fraccionamento ou picado, ralado, etc.). Poderá também optar por preparações dietéticas ou produtos homogeneizados, os quais, podendo dar satisfação completa nos aspectos dietéticos, fale com o seu farmacêutico.
Tenha também em conta que, no idoso, é muito frequente a obstipação, ocasionada, por um lado, pela atonia do tubo digestivo e pela diminuição das secreções digestivas e, por outro lado, pela falta de fibra. Esta falta de fibra obriga ao cálculo da quantidade de fibra fornecida pelos GRUPOS IV e V e dos alimentos mais indicados (pão de mistura, vegetais verdes, e frutos) para se conseguir um equilíbrio em fibra.
As dislipidémias (ou formas estabelecidas de ateroscleroses e outras perturbações degenerativas), nas quais a nutrição desempenha papel fundamental, dependem de desequilíbrio entre hidratos de carbono e gorduras, do excesso destas ou dos seus ácidos gordos saturados e colesterol, do consumo excessivo de açúcar e de álcool, que as pessoas idosas aceitam inadvertidamente.
O idoso pode consumir cinco a seis refeições diárias. O processo de preparação mais indicado é a cozedura, sob a forma directa ou estufado em cru, bem como grelhados ou ainda assados. A sopa deve manter-se insubstituível à semelhança do indicado para a idade adulta.